A liberdade nas telas
09/06/2015Dos anos em que atuou nas áreas de Execução Penal e de Inspeção Prisional, o promotor de Justiça Cézar Ramaldes recorda o aprendizado que adquiriu em relação à valorização da pessoa, em um ambiente que pode ser hostil e desestimulante, e às histórias que pode presenciar e fazer parte.
O protagonista de uma dessas história é “Freitas”, detento que, apesar do temperamento instável e dos esporádicos atos de indisciplina, dedicou-se a aprender pintura e a deixar florescer o dom para a arte. Durante os 35 anos em que ficou preso em diversas penitenciárias de Minas Gerais e do Espírito Santo, José Raimundo de Freitas encontrou oportunidade e condições para se dedicar à pintura, criando quadros de temáticas diversas que em nada lembram a vida prisional.
Quando por fim Freitas vislumbrou chance de ter de volta a liberdade, o promotor de Justiça Cézar Ramaldes se viu preocupado. “Eu sabia que, depois de tanto tempo preso, ele já não tinha nenhum vínculo afetivo e familiar com alguém que pudesse acolhê-lo e dar-lhe as condições mínimas da não-reincidência. Assim, lembrei-me do Grupo Resgate São Francisco de Assis”.
Sediado em Linhares, o Grupo Resgate acolhe voluntariamente pessoas com dependências química e de álcool, presta a elas toda a assistência necessária e o mais importante: “lhes dá o calor humano indispensável e necessário à recuperação”. Bem recebido desde o princípio por Altamir Ribeiro, co-fundador do grupo, Freitas teve apoio e chegou a expor as obras em locais públicos. Infelizmente, ele faleceu em junho de 2014, após três meses lutando contra as sequelas de um acidente de moto. As inúmeras telas que deixou foram doadas por sua filha ao grupo que o acolheu.
Como conta o promotor de Justiça, o Grupo Resgate São Francisco de Assis é uma instituição sem fins lucrativos que presta apoio psicossocial, promove a reintegração familiar, social e comunitária e realiza campanhas educativas e de prevenção às pessoas com dependência química. Com capacidade para acolher 40 pessoas, o local está quase sempre cheio, devido à grande demanda. O custeio provém de repasses do poder público, através de diversos programas de assistência aos dependentes químicos e também de contribuições espontâneas e doações.
Diante disso, Cézar Ramaldes se prontificou a vender as telas que foram doadas por Tatiana, filha de Freitas, para angariar fundos ao grupo. “Embora elas tenham enorme valor afetivo para os que conviveram com ele – e assim puderam perceber que a despeito de seu passado, era uma pessoa generosa -, todos têm conhecimento de que este gesto será uma forma de retribuição pela acolhida que lhe deram lá no Grupo Resgate”, contou.
Aqueles que tiverem interesse em adquirir uma das belas telas de Freitas devem entrar em contato com o promotor de Justiça Cézar Ramaldes, pelo e-mail, ou telefone: (27) 99982-3802. Confira alguns dos trabalhos do pintor abaixo.