Oficina capacita técnicos para criação de grupos reflexivos com homens agressores no Espírito Santo

Aconteceu nesta quinta (1º) e sexta-feira (02), no auditório da Procuradoria-geral de Justiça, a oficina “Formação de Multiplicadores em grupos reflexivos para homens agressores”. O evento, promovido pelo Núcleo de Enfrentamento da Violência Doméstica contra a Mulher (Nevid), teve o objetivo de capacitar membros, servidores e técnicos para realização de trabalho com homens autores de violência doméstica e familiar contra mulheres, a partir da experiência bem-sucedida do projeto “Tempo de Despertar”, desenvolvido pelo Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP).
 
Participaram da oficina cerca de 70 profissionais da rede de atendimento e enfrentamento da violência doméstica do Estado, entre promotores de justiça, defensores públicos, juízes, policiais civis, psicólogos e assistentes sociais, todos indivíduos que já fazem parte da rede de proteção às mulheres em situação de violência. A capacitação foi ministrada pela promotora de Justiça Maria Gabriela Prado Manssur, fundadora do projeto, e pelo professor, filósofo e coordenador do “Tempo de Despertar”, Sérgio Barbosa.
 
O projeto Tempo de Despertar cria grupos reflexivos de homens que agrediram mulheres para combater a reincidência da violência doméstica  e surgiu do questionamento sobre o que fazer com homens que agridem as mulheres. “Mais do que passar dados, temos que trabalhar o emocional. Discutimos a construção da sexualidade do homem e da mulher, a masculinidade, o patriarcado”, explicou o coordenador, Sérgio Barbosa. Ele explicou que é realizado um trabalho de desconstrução de como esses homens vêem as mulheres, sua posição na sociedade e o papel de homem construído socialmente.
 
A fundadora do projeto, a promotora de Justiça Maria Gabriela Prado Manssur, contou que a motivação para criar o grupo foi o índice de reincidência de atos de violência contra a mulher. “Esses homens continuavam cometendo violência. Nós precisamos falar com eles, entrar e desconstruir esse comportamento, que é aprendido socialmente. Comecei a focar na responsabilização e ressocialização do autor da violência”, relatou a promotora.
 
De acordo com a fundadora do projeto, com a atuação do “Tempo de Despertar”, a reincidência de atos de violência diminuiu de 65% para 2% entre 2014 a 2016. Ela deve esse resultado à conscientização e à reflexão. 
 
Tempo de Despertar – Entrevista com a promotora de Justiça Maria Gabriela Prado Manssur
 
– Qual foi a sua motivação ao criar o projeto?
 
Minha maior motivação foi o alto índice de reincidência. Esses homens continuavam cometendo violência, e nós precisamos falar com eles, olhar para eles, para tentar modificar o comportamento. Esse comportamento é aprendido socialmente, nós precisamos entrar e desconstruí-lo, sem desprezar a penalização.
– Qual a metodologia de trabalho com esses homens?
 
Durante quatro meses, os autores de violência contra a mulher reúnem-se a cada 15 dias para assistir a palestras com especialistas, sentam-se em rodas de discussão e, principalmente, são provocados a refletir sobre as questões de gênero, os direitos da mulher e os caminhos para desconstruir sua própria masculinidade agressiva. Além disso, fala-se sobre paternidade, direitos humanos, DST/AIDS, drogas e álcool. 
 
 A que a senhora deve a redução do índice de reincidência?
Os resultados estão sendo colhidos pelo nosso trabalho de conscientização e reflexão. A possibilidade de eles exporem sentimentos, saberem que o que eles tão fazendo é crime e as consequências, não só no âmbito criminal, mas também na família, para mulher, também provoca essa mudança de comportamento.
 
– Como a senhora se sente estando à frente deste projeto?
 
Sinto-me feliz e realizada. Minha missão de vida é o combate à violência contra a mulher, fazer com que a violência diminua no Brasil e uma possibilidade de uma vida livre de violência para todas as mulheres.