OPERAÇÃO PIÀNJÚ – Nota 3

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio do coordenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), promotor de Justiça Tiago Boucault Pinhal, participou da entrevista coletiva realizada na quinta-feira (17/12) no prédio da Chefatura de Polícia Civil do Espírito Santo, localizado na Av. Nossa Senhora da Penha, 2290, Santa Luiza, Vitória, que forneceu detalhes da chamada “Operação Piànjú”. A operação, deflagrada pela Polícia Civil (PC-ES), por meio da Divisão Especializada de Furtos e Roubos de Veículos (DFRV/Deic) e do Gaeco, contou com apoio das Polícias Civil de São Paulo, Alagoas e Ceará, além da Capitania dos Portos, e teve o objetivo de desarticular uma estruturada organização criminosa de lavagem de dinheiro, com atuação interestadual e internacional.

O secretário estadual de Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho, abriu a coletiva saudando o trabalho de todos os envolvidos, policiais civis, militares e Gaeco. “O empenho de todos foi fundamental para chegarmos a esse resultado. A nossa presença aqui é exatamente para agradecer, reconhecer, destacar e elogiar a grande operação realizada pela Polícia Civil do Espírito Santo e, nesse sentido, pedir para que a sociedade valorize a sua Polícia Civil”, disse.

O delegado-geral da PC, José Darcy Arruda, parabenizou pelo brilhante trabalho realizado especialmente os delegados e policiais da DFRV, de onde partiram as investigações, a partir da apreensão de um caminhão. “A parceria desenvolvida com o Gaeco, que já tem uma expertise nessa área, foi muito importante para chegarmos a esse resultado. Foram dois anos de árduo trabalho dos delegados e dos policiais. Sei o que significa isso, para a operação chegar a uma maturidade e possa ser deflagrada. Desde o início estamos batendo duro no patrimônio e no financeiro do crime. Quando tiramos esses recursos, começa a ruir toda a estrutura deles”, destacou.

O coordenador do Gaeco também parabenizou a todos, dizendo que esta foi uma operação duradoura que se deu com muita responsabilidade até a recente deflagração. “Gostaria de destacar o sucesso desse trabalho, que decorre da união das instituições. Em um dado momento, a PC se encontrou com o Ministério Público que estava em uma investigação correlata, mas em caminhos diferentes. Dali se estabeleceu uma troca de informações e o trabalho conjunto que, efetivamente, trouxeram bons resultados. Estamos à disposição da Polícia Civil, da Polícia Militar e de todos os demais órgãos de controle para realizar parcerias como essa, de sucesso”, frisou.

O promotor de Justiça deixou claro que todo o material apreendido, que se encontra lacrado, passará agora por uma análise criteriosa. Destacou a apreensão de altos valores em dinheiro. “Foram apreendidos US$ 630 mil e R$ 230 mil, que serão depositados em contas judiciais e ficarão à disposição do juízo para depois, na formação da culpa, ter uma destinação específica. O que chama a atenção na apreensão desse quantitativo expressivo em dólar, é que isso estava escondido em um veículo, em um compartimento no painel descoberto pela Polícia Militar de São Paulo, que também nos deu apoio na operação”, contou.

Os demais delegados também agradeceram às polícias e aos Gaecos envolvidos na deflagração da Operação Piànjú. Lembraram que duas empresas do Espírito Santo movimentaram mais de R$ 800 milhões. Também disseram que contam com parcerias internacionais para investigação de duas empresas nos Estados Unidos. Em relação às empresas chinesas, para onde também teriam sido feitas remessas de valores, não foi possível identificar, porque a China não tem acordos ou tratados com o Brasil que permitam essa troca de informação.

 

Esquema

O grupo criminoso atuava de forma estruturada com a finalidade de praticar diversos crimes, entre eles: organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos públicos e particulares, inserção de dados falsos em sistemas informatizados, falsidade ideológica, estelionato e falsa comunicação de crime.

A operação foi realizada de forma simultânea nos Estados do Espírito Santo (Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica), São Paulo (Capital, Santos e Jaguariúna), Ceará (Fortaleza) e Alagoas (Maceió). Ao todo, atuaram na operação 118 agentes, entre delegados, investigadores e agentes das Polícias Civis dos Estados envolvidos, além de promotores de Justiça e agentes do Gaeco do Espírito Santo e de São Paulo.

Foram expedidos 126 mandados judiciais, sendo, 18 mandados de prisão preventiva, cinco mandados de prisão temporária, 30 mandados de busca e apreensão, 23 sequestros de embarcações, 43 ordens judiciais de bloqueio de contas bancárias e duas ordens judiciais de suspensão de atividades econômicas.

Entre as ordens de busca e apreensão encontravam-se 12 imóveis, três veículos de luxo (Porsche Panamera, Maserati Granturismo S e Mercedes Benz GLA200FF), 12 motos aquáticas e 11 embarcações. Foi necessária, inclusive, a utilização de uma máquina de contar dinheiro, diante do volume de cédulas encontradas.

Investigação

Durante dois anos de investigação, a Divisão Especializada de Furtos e Roubos de Veículos do Espírito Santo comprovou que a célula da organização criminosa investigada, que atuava no Estado do Espírito Santo, composta por dois grandes empresários, além de diversos outros membros, agia como “prestadora de serviços” de lavagem de capitais para outras organizações criminosas. Tinha, inclusive, ligação com empresas e pessoas investigadas e denunciadas no âmbito de diversas fases da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, Ministério Público Federal e Justiça Federal, entre elas, a Operação Chorume e Operação Descarte. Também se relacionavam com empresas que foram investigadas por atuarem com os doleiros Alberto Youssef e Nelma Kodama, todos no âmbito da Força Tarefa da Operação Lava Jato, além de uma empresa investigada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), por desvios de mais de R$ 98 milhões em ICMS. Essa organização criminosa sediada no Espírito Santo movimentou mais de R$ 800 milhões em valor global.

Os membros responsáveis pelo esquema de lavagem de dinheiro usavam empresas de fachada e fictícias, criadas valendo-se de identidades falsas, expedidas pelo Setor de Identificação da própria Polícia Civil do Estado do Espírito Santo. A organização criminosa e os beneficiários da lavagem, ou seja, os “clientes”, que tinham os valores remetidos para contas de empresas na China e Estados Unidos, se valiam da precariedade do sistema atual de emissão de identidades civis.

PIÀNJÚ – o nome da operação faz referência à palavra em mandarim, que significa uma “fraude”, uma “armadilha”.

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