Termina o julgamento do Caso Milena Gottardi com a condenação de todos os réus envolvidos no crime

O Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), por meio dos promotores de Justiça do Júri de Vitória Bruno de Oliveira, Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos Santos e Rodrigo Monteiro, obteve a condenação dos seis envolvidos no assassinato da médica Milena Gottardi. O júri realizado no Fórum Criminal de Vitória foi um dos mais longos da história do Judiciário capixaba, com a sentença sendo proferida ao final do oitavo dia, na noite de segunda-feira (30/08).

De acordo com a sentença, o ex-marido de Milena, Hilário Frasson, e o pai dele, Esperidião Frasson, foram condenados cada um à pena máxima, de acordo com o Código Penal Brasileiro (CPB), de 30 anos de prisão em regime fechado. Hilário foi o principal responsável pelo crime. Foi avaliado como uma pessoa que possui “personalidade desajustada, sem compaixão com a vida da sua própria esposa e mãe de suas próprias filhas”.

Foi determinada a perda do cargo público de Hilário — ele já havia sido expulso da Polícia Civil no ano passado. O condenado também foi sentenciado à perda definitiva da guarda das duas filhas, que estão com o irmão de Milena, Douglas Gottardi Tonini.

Em relação à Esperidião Frasson, ficou comprovado que ele teve participação efetiva também como mandante do crime. De acordo com a decisão, por ser sogro da vítima e pai do outro mandante, poderia demovê-lo da ideia de assassinar a médica. “Acobertou o crime e agiu para a sua cruel execução. O acusado é uma pessoa temida na região. Personalidade maldosa, sem compaixão com a sua nora e mãe de suas próprias netas”, destacou o juiz Marcos Pereira Sanches, titular da 1ª Vara Criminal de Vitória, que presidiu o júri popular.

Executor
Executor confesso do assassinato de Milena, Dionathas Alves Vieira foi condenado à pena integral de 28 anos e oito meses de reclusão. No entanto, por ter confessado o crime e colaborado na elucidação dos fatos teve a pena reduzida em dez anos e terá de cumprir 18 anos e oito meses de prisão.

Bruno Broetto, que forneceu a moto para Dionathas cometer o crime, teve a participação no crime reconhecida, sendo condenado a 10 anos e cinco dias de reclusão. De acordo com a sentença, Bruno sabia que a moto irregular que entregou para Dionathas seria utilizada para um crime.

Valcir da Silva Dias e Hermenegildo Palauro Filho, vulgo “Judinho”, foram condenados por intermediar o crime à reclusão por 26 anos e 10 meses cada um. Valcir foi o principal intermediário e participou de todas as tratativas para o cometimento do homicídio, mantendo contato com o executor confesso do crime antes, durante e depois dos fatos. Por fraude processual, foi condenado também a mais 10 meses de reclusão.

Veja o infográfico.

Os seis réus condenados por envolvimento no assassinato da médica Milena Gottardi também terão de pagar uma indenização coletiva de R$ 700 mil aos familiares da vítima. A decisão é do juiz Marcos Pereira Sanches, titular da 1ª Vara Criminal de Vitória, que presidiu o júri popular sobre o caso.

De acordo com o promotor de Justiça Rodrigo Monteiro, o julgamento foi justo e as penas foram razoáveis. “Vamos avaliar e analisar se vamos interpor recurso, mas, em princípio, estamos satisfeitos com o resultado. Vamos analisar com calma, com ponderação para decidirmos se vamos ou não interpor recurso”, avaliou.

Veja a análise de Rodrigo Monteiro

Para o promotor de Justiça Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos Santos, é preciso que as mulheres fiquem atentas ao comportamento de posse manifestado por companheiros. “O que resta para gente é a mensagem, especialmente para as mulheres. Qualquer tipo de invasão à privacidade, de abuso psicológico, procure ajuda. Não fique esperando que isso mude. Não espere que se chegue a um extremo e se perca a vida. Fica o recado para quem tem uma irmã, uma filha, quem tem mãe, quem é mulher, que tenha consciência de sua privacidade, que há uma diferença muito grande entre o que é amor e possessão”, disse.

Veja a análise de Leonardo Augusto de Andrade Cezar dos Santos

Os promotores de Justiça analisaram mais de 15 mil páginas e, no dia dos debates, falaram por 7 horas e 28 minutos, sustentando a tese de acusação do MPES. O promotor de Justiça Bruno de Oliveira avaliou que o trabalho do Ministério Público foi eficaz e o resultado expressa essa imersão nos autos e a clareza como isso foi repassado para os jurados nos oito dias de julgamento. “Foi extremamente cansativo. Tivemos um vasto material para analisar e buscar a melhor forma para enrijecer a tese de acusação com detalhes que suportassem quaisquer questionamentos”, considerou.

Veja a análise de Bruno de Oliveira 

Para a mãe de Milena, Zilka Gottardi, a justiça foi feita, mas a reparação não é completa porque a filha não está mais presente. “Nós conseguimos aquilo que queríamos: pena máxima. Todo mundo muito envolvido, sofrendo e nos ajudaram a vencer. Jesus estava com a gente. Uma equipe maravilhosa que, unida, conseguiu chegar a esse final. Errou, tem que ter justiça. Como eu perdi a minha filha, outras mães também sofrem, então tem que ser feita a justiça. Quantas estão com o coração como o meu? Partido, cortado… Eu fico com elas também”, desabafou. 

A médica oncologista pediátrica Milena Gottardi foi baleada na cabeça quando saía do Hospital das Clínicas, no bairro Maruípe, em Vitória, no dia 14 de setembro de 2017. Ela foi socorrida, mas não resistiu aos ferimentos. Ela morreu aos 38 anos e deixou duas filhas. A ocorrência policial militar foi iniciada para apurar tentativa de assalto. No entanto, as investigações iniciais demonstraram que houve um crime de mando que ganhou repercussão no Espírito Santo e no país.