Transtorno do Espectro Autista é tema de palestra no mês da inclusão da pessoa com deficiência
27/09/2021A procuradora-geral de Justiça do Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES), Luciana Andrade, fez a abertura da palestra virtual “Transtorno do Espectro Autista (TEA)”, ministrada pelo diretor-médico da TISMOO Biotech Company, médico Carlos Garcia, um dos mais renomados pesquisadores da área. O evento, em comemoração ao mês da Inclusão da Pessoa com Deficiência, foi realizado na sexta-feira (24/09) pelos Centros de Apoio Operacionais de Implementação das Políticas de Educação (Caope), da Infância e Juventude (Caij), de Implementação das Políticas de Saúde (Caops) e pelo Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf) e reuniu cerca de 120 participantes. Os debates foram conduzidos pela promotora de Justiça do MPES Paula Fernanda Almeida de Pazzolini.
O objetivo principal da palestra foi a divulgação de informações seguras, com foco no auxílio à identificação de comportamentos e sinais indicativos do TEA em crianças, para que se possa estabelecer rapidamente um diagnóstico e que os especialistas iniciem as intervenções necessárias e proporcionem condições melhores para essas crianças.
Segundo Gadia, existem alguns desafios para que o TEA possa avançar no país. “Precisamos saber quantos somos, por meio de estudo de prevalência. Isso nos ajudaria nos diagnósticos precoces, bem como a formação e capacitação de profissionais. É preciso investir em investigação e pesquisa, bem como realizar intervenções precoces. Outro desafio colocado é reconhecer os Transtornos do Espectro do Autismo como um problema de Saúde Pública, sendo necessário também a inclusão de uma legislação que permita o acesso à saúde, à escola e ao trabalho”, enumerou o especialista.
O médico alertou para o fato de o TEA ser um problema de saúde pública global com várias barreiras para o implemento de respostas rápidas e eficazes. “Existe a falta de recursos financeiros compatíveis com a prevalência e a severidade do transtorno. Da mesma forma, não existe um compromisso por parte da maioria dos governos para lidar de forma eficaz com o problema, promovendo sistemas de saúde extremamente centralizados que não permitem uma integração de serviços de saúde mental nos sistemas primários de saúde”, avaliou.
Indicações
Durante a palestra, o médico Carlos Gadia disse que as intervenções devem ser realizadas o quanto antes para promover uma vida melhor para a criança, ressaltando que o prognóstico é melhor quando se recebe intervenções precoces. Deixou claro que os estudos avançaram nessa área e que é possível detectar sintomas de autismo com segurança aos 18 meses de idade e que existe o indicativo para que se faça a “triagem” para esses sintomas duas vezes até os dois anos de idade.
O pesquisador também forneceu alguns parâmetros práticos para a triagem e diagnóstico do espectro autista. Ele observou que se trata de indicações que devem promover imediatamente uma avaliação mais detalhada. “Ausência de balbuciar ou de gestos até um ano de idade. Ausência de palavras até os 16 meses e ausência de combinações de duas palavras espontaneamente até os dois anos levam à indicação de uma avaliação mais detalhada para o Espectro Autista”, explicou.
Por fim, alertou para o fato de haver falsas promessas de cura e que as famílias, que se sentem vulneráveis, inseguras, culpadas e até perdidas diante dessa situação, devem ficar atentas e desconfiar dessas soluções mirabolantes. “Esses tratamentos alternativos podem levar à perda de tempo, de esforço, de recursos, de oportunidades e de motivação. Podem interferir em ganhos terapêuticos, já que certas terapias têm filosofias antagônicas. E o pior, podem ainda confundir os familiares, dificultar a implementação de terapias realmente eficazes ou fazer com que menos tempo e recursos sejam dedicados a essas intervenções benéficas”, sentenciou, defendendo a análise do comportamento aplicada ou análise comportamental aplicada, conhecida por pela sigla em inglês ABA, como medida segura, como tratamento seguro e eficaz para o autismo.
Debates
Foram feitas várias perguntas dirigidas ao médico Carlos Gadia pelos participantes do evento. Uma boa parte delas questionando a inclusão do autista no meio social, para as quais o especialista respondeu com a necessidade de um maior envolvimento da família. “Deve haver uma maior participação da família na educação e no tratamento do autista. Está comprovado que os programas terapêuticos e educacionais são mais eficazes quando se considera o papel crítico dos familiares no progresso da criança e se estabelece uma relação colaborativa e recíproca. É preciso que esses familiares sejam treinados e que se mantenha uma comunicação efetiva que facilite adaptações à medida que as necessidades e prioridades forem mudando”, relatou.
Ao encerrar, a procuradora-geral de Justiça, Luciana Andrade, agradeceu a presença de todos e especialmente ao palestrante, a quem convidou para participar de outros eventos futuros do MPES. “Gostaria de agradecer a sua gentileza no trato do tema que, sabemos, angustia pais e mães. Sabemos como a sociedade é agressiva em estabelecer um padrão que exclui mulheres, o público LGBTQIA+, enfim, todo aquele que é diferente de uma hegemonia masculina, branca, eurocentrista, fruto de uma cultura secular. Pais e mães de crianças que estariam fora desse ‘padrão’ estabelecido sofrem em dobro pelos filhos. A forma como o senhor traz essas informações faz com que ‘acordemos’ para esse tema e possamos agir, tanto institucionalmente como cidadãos, para reverter, ou pelo menos minimizar esse sofrimento, buscando estabelecer uma sociedade mais igualitária, justa e acolhedora”, finalizou a procuradora-geral de Justiça.